domingo, 6 de novembro de 2011

Dia de Finados – Passado, Presente e Futuro.


       Na quarta-feira, dia 02 de novembro, minha esposa e eu fomos ao cemitério. Nós e uma infinidade de outras pessoas, outras vidas, outras famílias. Por um momento me perguntei qual forte motivo faz com que pessoas saiam do conforto de suas casas para “visitar seus mortos”.
       Para quem acredita em alma não faria muito sentido, já que se supõe que ali a alma não esteja. Para quem não crê poder-se-ia dizer que faz menos sentido ainda, já que está tudo acabado.
       De qualquer das formas que se pense, quem se foi não está mais ali. Por outro lado, há nos cemitérios um registro material - restos mortais, lápides, placas – nos indicando perpetuamente (talvez por isso o nome perpétua?) que houve alguém entre nós, nesta vida tal qual a conhecemos.Alguém que amou, odiou, riu, chorou, entristeceu-se, foi feliz. Cumpriu sua jornada e partiu.
       Lembrar é uma forma de tornar vivos, ao menos dentro de nós, aqueles que se foram e que ainda amamos. Estar ali no campo santo no dia de finados talvez possa nos ajudar a acessar essa memória afetiva.
“Visitar” os nossos antepassados nos permite ajudar a compreender quem somos, por que somos e de onde viemos. Pode ainda lançar luz em nosso presente e valorizá-lo.
       Morar em um cemitério não é um privilégio só dos que estão ali. Um dia nossos restos mortais também farão parte daquele lugar.
       Relativizar as nossas ansiedades, medos e desejos diante da eternidade do tempo e do breve tempo de nossas vidas (ou, com as palavras ditas pelo meu patrão: não levar as coisas tão a sério a ponto de adoecer) é um grande aprendizado que podemos extrair olhando todas aquelas sepulturas.
       Compreender que a história da humanidade continuará após a nossa morte física nos proporciona um sentimento de humildade honesto e necessário para conduzir o nosso dia-a-dia. Essa percepção pode ainda nos dar o suave alento de que depois que nossa história nesse mundo termine, haverá outras pessoas vivendo suas vidas, seus amores, suas dores e alegrias e homenageando carinhosamente seus mortos.


Onassis Bruno
Função - Analista de Funeral e Membro da equipe do Instituto do Luto Bom Pastor


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

"Moda para pessoas mortas"




Pia Interlandi, estilista australiana, cria roupas para serem usadas por defuntos no seu enterro.

A roupa dos mortos é diferente da dos vivos, porque não têm como fim oferecer calor, proteção e comodidade, diz Pia. O objetivo é enfeitar o corpo para o pós-vida.

 
Em seus desenhos estão intrincadas memórias da perda de parentes e de desconhecidos, assim como conhecimentos adquiridos através de experimentos científicos.
 
O trabalho incorpora ideias da morte, com seus rituais e transformações, e é resultado de uma profunda reflexão sobre a vida e nossa passagem por ela. "Minha roupa é para pessoas que estejam pensando no final da vida e naquilo que valorizam".
 
A estilista explica que para desenhar a sua roupa leva em conta não apenas os que morrem, mas também os que ficam vivos. "Eles (os vivos) necessitam sentir que a pessoa que morreu está protegida, que é amada, que está coberta, que não está nua", reflete.

"Em minha experiência com meu avô, foi reconfortante ver que ele já não sentia dor, que o que o mantinha vivo já não estava mais lá, e que tudo o que restava era a carapuça."
"Mas é preciso proteger essa carapuça, porque existe um vínculo sentimental com ela, com a sua aparência." Para Pia, "vestir um ser amado é um processo imensamente poderoso, e embora não seja para todos, recomendo às famílias que participem".


E você, o que acha disso? Já parou para pensar sobre o assunto?

terça-feira, 20 de setembro de 2011

11 de Setembro - Luto Mundial

Uma nação que ainda tenta compreender o significado do acontecimento, tenta dar sentido a ele!

Para homenagear as vítimas e também os heróis que arriscaram suas vidas, o diretor Spike Lee lançou esse videoclipe que contou com diversas crianças novaiorquinas que agradeceram os bombeiros através da música.

Compartilhando

Saudade (Pablo Neruda)


Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já…

Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
é não ver o futuro que nos convida…

Saudade é sentir que existe o que não existe mais…

Saudade é o inferno dos que perderam,
é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam…

Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.

E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades,
passar pela vida e não viver.

O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido!

Poema enviado por uma de nossas clientes do Instituto do Luto.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Música da semana: "Bye Bye - Mariah Carey"

     Escrita por Mariah Carey e co-produzida por Stargate, "Bye Bye" é uma música sobre a morte. Segundo a cantora essa música  é "para as pessoas que acabaram de perder alguém", disse ainda que fez essa canção em homenagem a todas as pessoas que passaram e marcaram sua vida , em especial para o seu falecido pai.

     Abaixo segue a tradução em português!


Adeus 
Essa é para as pessoas Que já perderam alguém
Seus melhores amigos, seus filhos
Seu homem ou sua mulher
Coloque suas mãos bem para cima
Nós nunca diremos adeus

Mães, pais, irmãs, irmãos
Amigos e primos
Essa é para o meu povo Que perdeu suas avós
Levante sua cabeça ao céu
Porque nunca diremos adeus

Enquanto criança, houve tempos em que
Não compreendia,
mas você me mantinha na linha
Eu não sabia o porquê
Você não aparecia às vezes
Aos domingos de manhã e eu sentia sua falta
Mas estou feliz que conversamos sobre isso
Todos aqueles problemas de gente grande
Que as separações trazem
Você nunca me deixou saber
Você nunca demonstrou
Porque você me amava
e obviamente
Há muito ainda o que dizer
Se você estivesse aqui comigo hoje
cara a cara

Eu nunca soube que podia ser tão doloroso
E a cada dia que a vida passa eu desejo
Poder falar com você por um tempo
Sinto saudades mas eu tento não chorar
Enquanto o tempo passa
E é verdade que você
Atingiu um lugar melhor
Mas eu ainda daria o mundo para ver seu rosto
E estar bem a seu lado
Mas é como se você tivesse ido cedo demais
E agora a coisa mais difícil de fazer
É dizer adeus

Você nunca teve a oportunidade de ver
O bem que eu fiz
E você nunca teve a chance
De me ver de novo em primeiro lugar
Eu queria que você estivesse aqui
Para celebrarmos juntos
Eu queria que pudéssemos
Passar os feriados juntos

Eu lembro de quando você costumava
Embalar-me para dormir
Com o ursinho de pelúcia que me deu
E que eu abraçava bem forte
Eu achava que você era tão forte
Que iria passar por qualquer adversidade
É tão difícil aceitar o fato de que
Você se foi para sempre

Eu nunca soube que podia doer tanto
E a cada dia que a vida passa eu desejo
Poder falar com você por um tempo
Sinto saudades mas eu tento não chorar
Enquanto o tempo passa
E é verdade que você
Atingiu um lugar melhor
Mas eu ainda daria o mundo para ver seu rosto
E estar bem a seu lado
Mas é como se você tivesse ido cedo demais
E agora a coisa mais difícil de fazer
É dizer adeus

Então essa é para o meu povo que já perdeu alguém
Levante suas mãos para o céu
Porque nunca diremos adeus!

E Você tem alguma música que goste muito e que te faça lembrar de alguém especial? Sim? Então nos escreva contando sobre isso: institutodoluto@grupobompastor.com.br
Estamos esperando o seu contato!

Bom final de semana e até semana que vem!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

"Compartilhando..."

     Uma de nossas clientes do Instituto do Luto pediu para que nós colocássemos no blog o texto que vocês vão ler abaixo. 
     Esse texto tem um significado muito importante para ela e de certa forma a confortou no momento que ela diz ser o mais difícil de sua vida. A intenção dela é poder compartilhar com vocês e quem sabe "confortar" ou pelo menos fazer vocês pensarem a respeito dessa vivência  tão dolorosa mas inevitável que ela e acreditamos que muita gente esta enfrentando nesse momento: a perda de alguém tão querido!

                            "A Morte não é Nada" - Santo Agostinho


"A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho...
Você que aí ficou, siga em frente, a vida
continua, linda e bela como sempre foi.”

     Para alguns esse texto poderá ter o mesmo sentido que teve para a nossa querida cliente, um "conforto", um "alívio" momentâneo.
     Para outros esse texto pode não ter significado nada. E isso também é totalmente compreensivo! Como sabemos o Luto é um processo ÚNICO! Cada pessoa reage de uma forma e o enfrenta de sua maneira, claro que as nossas crenças influenciam nisso também!

     Agradecemos imensamente a nossa cliente por compartilhar conosco algo tão significativo e pessoal para ela.
     Se você também tem algo a compartilhar, não se esqueça: institutodoluto@grupobompastor.com.br
     Um beijo carinhoso,
     Até!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

"Luto e a sua cor"

     Gerações antigas tinham o costume de marcar o luto através do traje. Era comum sair as ruas e encontrar principalmente senhoras vestidas de preto. Não precisava pensar muito para saber que aquela pessoa estava em luto. 


     Mas você sabe porque a cor "preta"?

     Em nossa cultura, o preto é usado para representar o luto. A utilização da cor preta em trajes para demonstrar o luto  não é universal. A cor preta é particular à sociedades Ocidentais já que a cor é associada a sentimentos ruins, tristeza e significa que a pessoa está fechada para as emoções. A vestimenta é uma forma de comunicar ao mundo uma situação especial vivida pela pessoa, ajudava as outras pessoas a identificar quem estava vivenciando um luto.

     Em certas regiões do Oriente, onde a morte é encarada como desprendimento e paz interior, o luto é representado pela cor Branca, que está associada à calma e à paz.    

     Hoje em dia o uso do preto nessas situações está em desuso, especialmente nas grandes cidades, mas já foi uma tradição em nossa cultura. Esse tipo de traje é ainda visto em falecimentos de políticos, celebridades, filmes e novelas:

   Dilma e Lula no velório de José Alencar.


   Familiares e amigos no enterro de Michael Jackson.


Intérpretes de Norma e Léo em cena de Insensato Coração.

     Queremos ressaltar que independente da cor da roupa, o que deve-se priorizar é a vivência do processo do luto. O luto não é uma doença, mas pode vir a ser se você não o viver. E esse é o objetivo do Instituto do Luto Bom Pastor: fazer com que você viva melhor o seu luto!

     Estamos a disposição: institutodoluto@grupobompastor.com.br
     Um forte abraço e até Breve!


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Homenagens para Amy Winehouse...

     Neste último sábado, faleceu Amy Winehouse, 27 anos. Ainda não se tem uma conclusão sobre o motivo de seu falecimento.
     Sua morte é lamentada por milhares de fãs que desde sábado prestam homenagens à cantora na porta de sua casa, em Londres.
     As homenagens mostram a importância que Amy teve na vida de quem ficou. Uma maneira dos fãs enlutados demonstrarem todo carinho e admiração pela cantora.


      Os familiares e amigos se reuniram hoje (sexta-feira) para celebrar a vida de Amy e comemorar os momentos bons que ela viveu. Os pais também doaram algumas peças de roupas da cantora para alguns fãs que ainda se mantinham em frente a sua residência.

     Hoje em dia é muito comum durante o cerimonial funerário haver homenagens ao falecido com o objetivo não somente de amenizar a dor da perda, como também de tornar aquele momento especial e único.

     Aos familiares, amigos e fãs de Amy nossos sinceros pesares.


terça-feira, 19 de julho de 2011

"A importância dos Rituais Fúnebres"


      Todos nós algum dia, já estivemos presentes em um funeral, seja de conhecidos, parentes ou até mesmo de pessoas da nossa própria família.
Mas você sabe a importância que essa cerimônia tem?
Já parou para pensar por que essa cerimônia existe?

      A cerimônia funerária nos ajuda a "enxergar" a difícil realidade - o falecimento de uma pessoa querida. Através dela, nos conscientizamos a respeito da perda. Antes de acontecer o funeral, temos a sensação que "a ficha ainda não caiu".
      É um local onde compartilhamos a dor que sentimos. Talvez seja hoje, o único momento e lugar em que as pessoas permitem expressar o que estão sentindo, pois sabem que nesse ambiente essa expressão é aceita e a sociedade não irá puni-lo.
     Através dessa cerimônia podemos homenagear a pessoa que faleceu.
     A vida da pessoa falecida é reconstruída durante essa cerimônia. É comum familiares e amigos relembrarem acontecimentos e histórias vivida pelo falecido. Isso ajuda na expressão de sentimentos e afirma o valor que aquela pessoa tinha para nós.
     O funeral é importante, pois demonstramos através dele o valor que aquela perda tem para nós.
     O ritual do sepultamento para algumas pessoas enlutadas gera segurança e conforto: a existência de um corpo para enterrar e de um lugar para visitar. 
     A ida ao funeral demonstra aos familiares que eles não estão sofrendo sozinhos, que você também sente por essa perda. Nesse momento sua presença física, um abraço, são de grande importância para o enlutado, que se sente desamparado nessa hora. 

     Resumindo: os rituais fúnebres tem como principal função - ajudar o enlutado a expressar a sua dor de forma própria. 

     Você imaginava a importância desses rituais para o processo de luto?
     Vamos continuar trazendo curiosidades e mais informações sobre esses rituais - Aguardem!

     Não esqueçam: institutodoluto@grupobompastor.com.br
     Estamos muito felizes com a participação de vocês, sempre opinando e dando sugestões. Esse retorno que vocês nos dão é muito importante para nós! 
     É muito bom poder contar com vocês!
     Até a próxima...  
     


terça-feira, 12 de julho de 2011

"Luto no Ambiente Escolar"

     Na semana passada discutimos a importância de se falar sobre a morte com as crianças.
     Sabemos que a escola é um ambiente em que as crianças permanecem por um longo período e que possui um papel fundamental para o desenvolvimento.
     Dessa forma, como os educadores lidam com a questão da perda em sala de aula?  Falar sobre a morte nesse ambiente facilitaria o entendimento do processo de luto? Evitar tocar no assunto pode diminuir o sofrimento de uma criança que passou por uma perda recente?

    
     Quando um aluno (a) perde alguém da família...
     Acreditamos que o assunto deve ser discutido em sala para que elas tenham a oportunidade de trocar experiências, opiniões com os outros colegas e também encontrar apoio e acolhimento para lidar com o sofrimento. Essa troca de experiências conforta e auxilia na expressão de sentimentos. Deve-se trabalhar a questão com a classe com o objetivo de acolher as inquietações de cada aluno e esclarecer dúvidas sobre o tema que podem surgir.
     Os educadores devem ficar atentos as reações do aluno (a), pois crianças que sofreram perdas podem apresentar mudanças de comportamentos e queda no rendimento escolar.

     Importante para os educadores:
- Respeitar como o aluno irá agir é fundamental.
- Se aproxime com delicadeza.
- Fique sempre por perto, é importante ele se sentir seguro.
- Não queira dizer algo para consolar, lembre-se que ninguém consegue diminuir o sofrimento de ninguém! Você pode estar junto, ajudá-lo a enfrentar e encarar esse sofrimento.
- Permita que o aluno expresse sua dor, não puna!
- Pergunte se ele mesmo quer contar aos colegas o que aconteceu ou quer que você o faça. Independente da resposta, forme um círculo e depois de dar a notícia aos demais aluno, pergunte se alguém mais já passou por isso, como foi.

     Outras situações que envolvem perdas e que precisam ser trabalhadas com as crianças:
- Separação dos pais
- Morte de bicho de estimação
- Mudança de escola, cidade, bairro.

     Dicas de livros que podem ajudar para trabalhar esse tema com as crianças:




Livro: Versos para entender o Luto - Para sempre no meu coração.
Autor: Annett Aubrey









Livro: Por que o Elvis não latiu?
Autor: Robertson Frizero








Livro: O dia em que o passarinho não cantou
Autor: Luciana Mazorra e Valéria Tinoco






    
     Se você tiver dúvidas, sugestões ou quer compartilhar conosco sua experiência sobre esse e/ou outros temas, escreva para nós: institutodoluto@grupobompastor.com.br
     Teremos o prazer de receber seu email!
     Até a próxima!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Devemos falar sobre a morte com as crianças?



Falar da morte às crianças, é sempre difícil!
Mas por que?

      Porque essa dificuldade é resultado da forma como nós entendemos e pensamos a respeito da morte. 
      Para a maioria dos adultos a morte é vista como algo misterioso, doloroso e angustiante, da qual não se deve falar. Dessa forma, é natural que tenhamos receios e que seja dificil explicar para os pequenos esse acontecimentos que faz parte da vida de todos.
      Um comportamento muito comum emitido pelos familiares é tentar poupar as crianças da morte ou do conceito de morte achando que são muito pequenas para entender. 
      Esses familiares estão equivocados, essa atitude mostra mais uma vez a dificuldade que os próprios adultos têm em lidar com a morte. 
      Outro erro cometido por pais e familiares são explicações abstratas e irreais na tentativa de evitar que as crianças sofram: "fulano partiu", "fulano foi morar no céu", "fulano bateu as botas", "foi para o andar de cima", "virou estrelinha", "foi viajar", "esta dormindo".
      As crianças a partir dessas explicações começam a fantasiar e gerar uma angustia. Vários questionamentos surgem na cabeça das crianças: "Se eu dormir eu também não vou mais acordar?", "Se ela virou uma estrelinha e foi para o céu, por que eu não posso ir também?", "Quando uma pessoa viaja, ela não volta mais?", "Se o céu é um lugar bonito, por que as pessoas choram quando as outras vão para lá?".    

Como uma criança entende a morte?

      Antes dos 5 anos as crianças entendem que a morte é reversível. Acreditam que a qualquer momento a pessoa que morreu possa voltar.
      Entre 5 e 10 anos crianças começam a entender que a morte é irreversível e que somente pessoas velhas e vítimas de acidentes morrem. 
      Após os 10 anos passam a entender que a morte é parte natural das coisas e que pessoas morrem em todas as idades e por diversas razões. 

O que dizer sobre a morte e como agir diante de uma criança?

      Quando uma pessoa da família morre, essa notícia deve ser dada a criança por uma pessoa próxima e em quem ela confie.
      Essa notícia deve ser dada de uma forma clara e simples. Use a palavra morte ou morreu e deixe claro que o que aconteceu é irreversível, para a criança não criar expectativas e fantasias.
      Não tente esconder sua dor para a criança. Chorar na frente da criança é uma forma de dizer que ela pode chorar também. É importante explicar que a tristeza é normal e que é preciso expressá-la. 
      Após contar sobre a morte, é necessário dizer a criança o que acontecerá: velório e funeral. Se ela demonstrar interesse é importante levá-la ao velório, enterro, explicando com palavras simples o que se passa.
      Jamas esconda a notícia. Mesmo crianças pequenas devem participar do luto em família, para não se sentir excluídas ou culpadas pela morte.
      É importante após o funeral, manter fotos e lembranças da pessoa falecida para poder conversar sobre isso com a criança. Isso irá ajudar a construir um novo vinculo da criança com a pessoa que faleceu.
      É aconselhável ouvir o que ela tem a dizer, tentar responder as suas perguntas e ajudá-la a expressar o que está sentindo. 

Quando devo começar a falar da morte com uma criança?

      Muitas pessoas esperam o falecimento de alguém próximo para a partir daí conversar e introduzir o assunto morte com uma criança. Porém muitas outras perdas ocorrem na vida de uma criança que precisam ser acolhidas e trabalhadas. 
      Uma oportunidade para começar a falar da morte e ajudar a criança a compreender isso como natural é a morte de uma planta, uma flor, ou até mesmo conversar sobre o animal de estimação que esta doente, conversar sobre o peixinho que morreu. 
      As histórias infantis podem ser usadas para desmistificar o tema da morte para a criança. 

      Lembre-se: se os pais mostrarem com naturalidade o ciclo da vida, a criança lidará com a morte sem maiores problemas.  

Se estiver enfrentando uma situação semelhante a essa e não souber como agir, escreva para nós. Teremos o prazer de lhe acolher e orientar quanto ao que pode ser feito.
Email: institutodoluto@grupobompastor.com.br

terça-feira, 14 de junho de 2011

Como as religiões encaram a morte



Folha de São Paulo, 2001.

CANDOMBLÉ
Significado: a vida continua por meio da força vital do indivíduo. A parte imperecível do corpo (ou "ori") não acaba, afirma o antropólogo Acácio Almeida Santos. E toda morte é fruto de uma intervenção.
Preparação: cultivando sempre sua força vital, pois as pessoas podem mudar seus destinos, apesar de existirem interferências na morte. Reencarnação: o "ori" volta para a mesma família, mas em outro corpo. Já os homens fortes, que têm filhos, maturidade, prestígio social e morte aceitável, tornam-se ancestrais.
Ritual: denominado "axexê", o rito funerário começa após o enterro e costuma durar vários dias. Na cerimônia, algumas pessoas que têm relação com o morto são chamadas para participar do ritual em que o espírito do corpo é encaminhado para outra terra. Nessa passagem, elementos simbólicos e materiais (objetos pessoais sacralizados) são quebrados e jogados em água corrente.
Luto: a morte é uma desordem que leva tempo para ser superada. Após alguns anos, aquela pessoa passa a interferir na energia vital do grupo ao qual pertencia.

CATOLICISMO
Significado: é vista como uma passagem, a porta de entrada para a ressurreição. "A religião enxerga apenas os vivos e os ressuscitados. Não existem mortos", diz o padre Paulo Crozera, coordenador da Pastoral Universitária da PUC-Campinas.
Preparação: ter em mente que a vida é um dom divino e deve ser vivida da melhor forma possível.
Reencarnação: todos serão ressuscitados porque Cristo é quem livra a pessoa do pecado, mas não existe a reencarnação. Corpo e alma são uma coisa só.
Ritual: vela-se o corpo e, além das orações populares que costumam ser feitas durante o velório católico, como o pai-nosso e a ave-maria, um padre ou ministro faz uma celebração para encomendar a vida da pessoa para as mãos de Deus. As velas, colocadas ao lado do caixão, simbolizam a luz de Cristo ressuscitado e a vida que vai se consumindo, mas que sempre brilha.
Luto: são feitas celebrações em memória do morto no sétimo dia, no primeiro mês e no primeiro ano. Acredita-se que esse processo precisa ser vivido para que se possa lidar da melhor forma com a morte.

ESPIRITISMO
Significado: a morte não existe porque acredita-se na eternidade do espírito. "O corpo é uma veste, e a reencarnação serve para o espírito evoluir", diz Ana Gaspar, que faz parte do Conselho Doutrinário do Centro Espírita Nosso Lar Casas André Luiz.
Preparação: aprende-se a agir após os estudos de livros de Allan Kardec, pai do espiritismo. Como acredita-se que o médium é intermediário entre os vivos e a alma dos mortos, isso significa que existe a possibilidade de comunicação com o espírito que já deixou aquele corpo.
Reencarnação: quando o corpo morre, o espírito se desliga e fica no mundo espiritual estudando e se preparando para uma nova reencarnação. As encarnações acontecem até o espírito atingir sua evolução.
Ritual: o corpo é velado e enterrado ou cremado. As preces ajudam o caminho para o mundo espiritual.
Luto: não existe porque não se acredita na morte.

ISLAMISMO
Significado: passagem desta vida para outra, eterna. "Quem fizer o bem será julgado por Deus e vai para o paraíso. Quem fizer o mal também será julgado e irá para o inferno", diz Abdul Nasser, secretário-geral da Liga Juventude Islâmica do Brasil.
Preparação: desde a infância é passada a noção de que tudo que começa tem um fim.
Reencarnação: não acredita. A alma teve tempo suficiente na terra para cumprir sua tarefa.
Ritual: o corpo é lavado pelos familiares -sempre do mesmo sexo- e enrolado em três panos brancos. Depois, é colocado em um caixão para que os parentes mais próximos se despeçam e levado à mesquita. A partir daí, apenas os homens participam.
Luto: dura três dias. Quando a mulher perde o marido, o tempo sobe para 130 dias, período em que ela não pode sair de casa, a não ser em emergências.

JUDAÍSMO
Significado: é o fim do corpo material. "A verdadeira pessoa, que é a alma, é eterna", diz o rabino Avraham Zajac.
Preparação: a criança aprende desde o início que a vida é feita de mudanças.
Reencarnação: existe outro mundo, para onde as almas vão, chamado de "olam habá" (mundo vindouro). No entanto a alma pode voltar para a terra num outro corpo para completar sua missão.
Ritual: o corpo é envolvido em panos brancos, e o caixão é fechado para que ninguém mais o toque. Familiares e amigos rezam salmos. Parentes próximos cortam tecido da roupa para mostrar o luto.
Luto: na primeira semana, os parentes se reúnem para rezar em casa. Apenas o espiritual conta, por isso os espelhos da casa, que refletem o corpo material, são cobertos. A pessoa é lembrada na data de morte por todos os anos seguintes.

PROTESTANTISMO
Significado: período de transição para outra vida, explica o pastor Fernando Marques, da Igreja Metodista Central de São Paulo. Preparação: ter fé na palavra de Deus, que julgará o destino da pessoa no céu ou no inferno, não a partir das ações dela, mas pela sua fé.
Reencarnação: não existe. Acredita-se em uma próxima vida em comunhão com Deus.
Ritual: velório e enterro são feitos em homenagem à família do morto.
Luto: não há regras.

ZEN-BUDISMO
Significado: o corpo se transforma em elementos básicos da natureza, mas a energia das ações e das palavras continuam repercutindo na terra por muito tempo, diz a monja Coen de Souza.
Preparação: meditação, que possibilita a compreensão de que tudo é transitório e interligado.
Reencarnação: renascimento é a palavra mais apropriada. Acredita-se que um ser mais "verdadeiro" (mais puro) vai retornar.
Ritual: flores, velas e incenso no velório. Os parentes usam roupas escuras, e são feitas preces.
Luto: preces ou transcrições de textos sagrados durante 49 dias a cada sete dias.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Morte x Sociedade

           Atualmente pode-se dizer que a maior dificuldade do homem pós-moderno é lidar com a morte.
Com o passar dos séculos, as atitudes frente a morte mudaram muito, mas por que?
Antigamente era mais fácil lidar com a morte?

Até o século XIX
As pessoas eram mais familiarizadas com a morte.
O tema morte servia de inspiração para os pintores da época.
Quando ocorria um falecimento, era a própria família que cuidava da preparação do corpo e do enterro. A perda era vivenciada por todos, inclusive crianças.

Século XX, até os dias de hoje
Hoje em dia morre-se nos hospitais, UTIS, não mais em casas, junto aos familiares.
As famílias não participam mais da preparação do corpo. Hoje deixam para profissionais especializados realizarem esse serviço.
O uso do crematório aumentou consideravelmente, com isso visitas aos cemitérios diminuíram proporcionalmente.

O contato com a morte é e sempre foi muito desgastante, porém as formas de enfrentamento da perda foram modificadas:
- Antigamente esse era um tema freqüente, discutido e vivenciado pela sociedade o que facilitava na compreensão, por isso aparentava ser mais fácil lidar com a morte.
- Hoje o sofrimento resultante de uma perda leva o indivíduo a querer distanciar-se dela. A sociedade atual pune o indivíduo que chora pela perda de um ente querido, não se fala sobre morte, é ainda considerada um tabu. Esse tema é evitado e ignorado, fazendo com que vejamos a morte como algo que acontece com os outros e não conosco. Para muitos a morte se tornou algo aversivo, que ninguém sabe lidar, devido ao pouco conhecimento e aproximação com o tema. Essa forma de enfrentamento, não permite que o indivíduo vivencie o processo do luto, o que acaba gerando danos para essas pessoas.
O ser humano moderno, fruto de nossa sociedade consumista, gasta todo seu tempo de vida procurando ter e gozar do que tem, chegando ao momento da morte totalmente despreparado.
Pensar na morte de maneira serena e calma não é uma questão de morbidez, masoquismo, ideação suicida, falta de vontade de viver, porque é bom deixar de existir ou algo assim. Na realidade, trata-se da conscientização de que ela vai acontecer de qualquer forma e com TODOS. É a adaptação para com algo que vai acontecer, queiramos ou não, uma hora ou outra.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Luto Antecipatório

“O Luto Antecipatório trata-se de uma fase onde se fica no fio da navalha, pois, por um lado, temos que nos preparar para a morte que se avizinha e, por outro, precisamos dedicar todo o nosso amor, atenção e carinho ao paciente em fase terminal”. (Fonseca 2004, p.97)



 Luto Antecipatório: é a vivência do luto ANTES da perda real, da morte propriamente dita.
     Esse tipo de luto ocorre, por exemplo, quando recebemos o diagnóstico de que alguém que amamos muito está com uma grave doença e que não tem chances de cura e sobrevivência. É muito difícil ver quem amamos se definhando com o tempo e ficando cada vez mais frágil por causa de uma enfermidade brutal.
     Essa situação pode causar uma desorganização e sofrimento tanto no indivíduo quanto em sua família além do grupo social que pertence.
    O Luto Antecipatório - É um fenômeno adaptativo, no sentido de que é possível, tanto o paciente quanto os familiares se prepararem cognitivamente, emocionalmente e espiritualmente para o acontecimento seguinte que é a morte.
     A maneira como cada indivíduo irá reagir frente a esse sofrimento é algo único. Não existe um roteiro a ser seguido que nos ensine a evitar essa dor. Porém algumas orientações podem contribuir para amenizar esse sofrimento que se aproxima:
- criar um espaço que possam conversar e expressar o que estão sentindo;
- falar sobre o sofrimento;
- falar sobre os medos;
- tomar decisões em conjunto;
- se despedir, dizer o que tem vontade para o paciente enquanto ainda é tempo;
- enfrentar essa situação de forma unida.
     Esses comportamentos ajudam na aceitação e adaptação a essa nova realidade. Facilitam a compreender que uma perda esta prestes a acontecer, ajudam a finalizar situações que ainda não foram resolvidas, promovem maior comunicação entre os indivíduos que estão envolvidos e acolhem as emoções e os sentimentos eminentes nesse período.
    Para quem ainda tiver dificuldades em expressar essa dor, esse sofrimento, o recomendável é procurar algum tipo de ajuda.
     O filme “Uma Prova de Amor”, do diretor Nick Cassavetes, fala justamente sobre este difícil momento de aceitação de que o fim está próximo.



     Esse filme foi lançado em 2009 e conta a história de uma família, cuja, a filha do meio foi diagnosticada com um tipo raro de leucemia.
     O filme mostra as lutas dessa família contra a doença e a forma como cada integrante desta história vivencia seu luto atencipatório.
     Vale a pena assistir!

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Entrevista:


Entrevista com Cissa Guimarães

A atriz relata como vem enfrentando e vivenciando o seu luto.
Enfatiza a importância da terapia do luto para lidar com a perda de seu filho.



domingo, 8 de maio de 2011

Dica de livros: Maio/2011


"Conversando sobre a Morte"
Da autoria de Carla Hisatugo , o livro é indicado para crianças que passaram por uma perda na família.

"Livro infantil para crianças com idade a partir de cinco anos pretende contar o que sentimos, pensamos, acreditamos e fazemos quando uma pessoa querida morre. Deste modo, explicita-se a vida real de maneira acessível à criança, propiciando que a mesma entenda melhor e reflita sobre seus sentimentos e percepções em relação à morte."

 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

O Japão e a força para seguir em frente

 O Tsunami que atingiu o Japão em março desse ano nos mostra claramente que nenhum de nós está livre da possibilidade uma tragédia. De certo modo, os japoneses vivem uma espécie de luto coletivo.
A destruição repetida inúmeras vezes pelos meios de comunicação nos causando horror e espanto é o marco zero de onde partirão os japoneses para a reconstrução das províncias destruídas.
É claro. Sofrem por seus mortos, derramam suas lágrimas. Mas a vida, por mais difícil que seja, deve continuar.
 Os destroços serão retirados, as ruas serão limpas, as casas reconstruídas e depois de muito trabalho e do tempo fazer a sua parte, as coisas voltarão à uma certa normalidade. Ninguém da região atingida pelo tsunami será mais o mesmo. Provavelmente nem os lugares e os espaços terão a mesma configuração. Não se pode passar por algo tão avassalador sem nenhuma marca. Nem seríamos normais  se assim o fosse.
 O Japão já nos deu grandes lições ao sobreviver às bombas atômicas e se tornar uma nação pacífica. Temos tudo para acreditar que não será diferente desta vez.
Em nossas perdas individuais, em nossos tsunamis particulares, a coisa se dá de maneira similar. Ao perder um ente querido tudo se desorganiza ao nosso redor. De repente o mundo se torna um lugar inseguro. Nosso interior fica devastado como ficaram as províncias japonesas atingidas pelas águas.
Virão as lágrimas, as perguntas sem resposta, a dor pela ausência do ser amado. Inevitável.
 Mas com o passar dos dias, semanas e meses, nossa vida exterior e interior se reorganizará. Com uma força que não imaginávamos possuir e a vontade de superação, chegaremos a um novo tipo de equilíbrio. Sairemos mais fortes, talvez. “Ressuscitaremos” de nossas perdas e a vida seguirá com outras cores, outros significados.
 Alguns de nós terão mais dificuldades para atravessar esse período e precisarão da ajuda de familiares e profissionais para reencontrar o significado de suas existências. Mas isso é outro  assunto sério e delicado e guardaremos para uma próxima oportunidade.

Onassis Bruno

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O que faz uma “Organização Social de Luto”?

Nós somos a Bom Pastor. Você poderá ter reparado que em alguns lugares aparecemos como Bom Pastor – Organização Social de Luto.
Pergunto-me se alguém já parou para pensar em quanta responsabilidade isso implica. Organizar a cerimônia de despedida do corpo de um ser humano que esteve entre nós, viveu, amou, foi feliz, sofreu e venceu a vida.
Preparar tudo para que os familiares possam chorar sua perda, estar ao lado do ser amado por mais algum tempo.
Na desordem e no desalento que são as primeiras horas do luto, devemos acolher a apontar o norte, orientar. E então, com a paciência do artesão, cuidar de todos os detalhes para que as famílias possam passar por um dos momentos de maior intensidade emocional de uma vida.
Encaramos o exercício desse ofício com a nobreza e a seriedade que ele merece. Afinal, essa é a nossa missão. É isso que uma empresa funerária ou uma organização social de luto fazem. Alguém já deve ter dito que o valor real das coisas que fazemos está no valor que a generosidade do nosso olhar atribui a elas.


Onassis Bruno

quinta-feira, 7 de abril de 2011


"Dona Cila - Maria Gadu"

A música Dona Cila, composta e interpretada por Maria Gadu, é um belo exemplo de como podemos lidar com nossas perdas. A letra, que  foi escrita em homenagem à sua falecida avó, é uma prova de que é possível extrair alguma beleza até dos acontecimentos mais difíceis.
No clipe oficial da música aparecem a avó e a Maria Gadu ainda menina. Em dois momentos a avó surge de maneira mágica no palco de um teatro e na passarela onde desfilam as escolas de samba. Sonhos que sua avó em vida não teria realizado.
A homenagem é ao mesmo tempo singela, refinada e principalmente emocionante.
É ainda um precioso indicativo de como podemos lidar com nossas perdas. Cada um em seu ofício, em seu mundo, da sua forma. A partir da dor, construir algo que possa iluminar as nossas vidas. Não há milagres, a caminhada não é fácil, mas há inúmeros exemplos que nos mostram que é possível.


Texto: Onassis Bruno (Atendente Grupo Bom Pastor)

terça-feira, 5 de abril de 2011

O Trem (Autor desconhecido)

    
      A vida não passa de uma viagem de trem, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis em alguns embarques e grandes tristezas em outros.

     Quando nascemos, entramos nesse trem e nos deparamos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem conosco: nossos pais.

     Infelizmente, isso não é verdade: em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos de seu carinho, amizade e companhia insubstituível....

     Mas isso não impede que, durante a viagem, pessoas interessantes e que virão a ser superespeciais para nós, embarquem. Chegam nossos irmãos, amigos e amores maravilhosos.

     Muitas pessoas tomam esse trem, apenas a passeio; outros encontrarão nessa viagem apenas tristezas; ainda outros circularão pelo trem, prontos a ajudar a quem precisa.

     Muitos descem e deixam saudades eternas, outros tantos passam por ele de uma foma que, quando desocupam seu assento, ninguëm sequer percebe.

     Curioso é constatar que alguns passageiros acomodam-se em vagões diferentes dos nossos; portanto, somos obrigados a fazer esse trajeto separados deles, o que não impede, é claro, que durante esse trajeto, atrevessemos, com grande dificuldade, nosso vagão e cheguemos até eles... só que, infelizmente, jamais poderemos sentar ao seu lado, pois já terá alguém ocupando aquele lugar.

     Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas... porém JAMAIS retornos.

     Façamos essa viagem, então, da melhor maneira possível tentando nos relacionar bem com todos os passageiros, procurando, em cada um deles, o que tiverem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajeto, eles poderão fraquejar e, provavelmente, precisaremos entender isso, porque nós também fraquejaremos muitas vezes e, com certeza, haverá alguém que nos entenderá. 

     O grande mistério, afinal, é que jamais saberemos em qual parada desceremos, muito menos nossos companheiros, nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado. Eu fico pensando se, quando descer desse trem, sentirei saudades...

     Acredito que sim; me separar de alguns amigos que fiz nele será no mínimo dolorido; deixar meus filhos continuarem a viagem sozinhos com certeza será muito triste, mas me agarro na esperança de que, em algum momento, estarei na estação principal e terei a grande emoção de vê-los chegar com uma bagagem que não tinham quando embarcaram... e o que vai me deixar feliz será pensar que colaborei para que eles tenham crescido e a bagagem se tornado valiosa.

     Amigos, façamos com que a nossa estada nesse trem, seja tranquila, que tenha valido a pena e que, quando chegar a hora de desembarcarmos, o nosso lugar vazio traga saudades e boas recordações para aqueles que prosseguirem a viagem! 

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pessoa Enlutada: Como consolar? Agir? O que posso fazer?

Há acontecimentos na vida que de tão dolorosos nos deixam sem palavras para justificá-los.

Como consolar alguém que se depara com a morte de um ente querido?

 Evitar lugares comuns como a horrível expressão “bola pra frente” e querer dizer qual é o momento em que o outro deve deixar de chorar por sua perda é questão de bom senso.

Cada qual sabe de si.

Não há instrumentos que possam medir o quão grande é o sofrimento alheio. Muito menos podemos nos autorizar a dizer que sentimos muito por perdas alheias sem que isso soe pouco verdadeiro.

Não há nada de novo em dizer que às vezes o silêncio respeitoso é melhor do que mil palavras ditas ao vento.

Qualquer gesto de ajuda a uma pessoa que perdeu um familiar recentemente pode consolar de maneira mais efetiva do que tentativas vãs de tentar explicar e dar motivos para o maior dos mistérios com o qual todos nós vamos nos confrontar um dia.

Uma sopa para a mãe enfraquecida pelo sofrimento. Uma tarefa doméstica que ajude a tornar mais arejado um ambiente de tanta densidade emocional. Simplesmente a nossa presença mostrando que a vida continua e que estamos ali para ajudar no que for preciso ou entender o momento em que a pessoa enlutada precisa estar só com seus sentimentos são gestos e atitudes que podem fazer alguma diferença.

Texto escrito por Onassis Bruno (Atendente Funerário - Bom Pastor)

terça-feira, 29 de março de 2011

Texto para Reflexão

Texto para refletirmos sobre nossa postura diante de uma pessoa enlutada.
Como agir? O que dizer?

Nossa sociedade tem dificuldade em lidar com o silêncio. Quer sempre saber, questionar como aconteceu.

O Enlutado quer estar com... quer ser amparado, quer companhia... porém sem questionamentos!
Pense nisso... e boa reflexão!


 A Morte e o Silêncio - Rubens Alves

Nos breves intervalos em que a chuva parava de cair e os raios de sol se infiltravam pelas nuvens, o arco-íris aparecia fazendo os homens se lembrar da promessa que Deus fizera depois do dilúvio: ele nunca mais permitiria que as águas destruíssem a vida. Mas parece que ele se esquecera. A chuva caia sem parar alagando campos, inundando cidades, derrubando casas, matando gente e bichos.
Ele era um menino de 14 anos, feliz, que gostava de viver. Filho único, morava em Floripa. Como todos os meninos e meninas, ele deveria ir à escola naquele dia, porque a chuvao estavao forte assim. E andar na chuva é uma arte quealegria às criaas.

Chegou a hora do recreio, tempo livre para brincar. A chuva voltou a cair mais forte, com raios e troes. Havia um lugar abrigado da chuva, uma marquise, construída fazia três semanas. Era uma cobertura de cimento, planejada por engenheiros que sabiam o que estavam fazendo. Sólida. Ele se abrigou sob a marquise para ver a chuva. Mas a marquise, ignorando ferro e cimento, caiu sobre ele, esmagando-o. Agora, no seu lugar, resta uma dor que nenhuma palavra pode conter.

A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas têm poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosseo importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou.

Mas não há palavra ou poema que possa com as únicas palavras que a morte deixa escritas: "Nunca mais". Nada existe de mais definitivo e mais doloroso que esse "nunca mais..."

Bem fizeram os amigos de Jó que o visitaram com o intuito de consolá-lo na sua desgraça. O texto bíblico descreve o que aconteceu:
"Quando eles, de longe, o viram, eles não o reconheceram; e eles levantaram suas vozes e choraram. E eles se assentaram com ele no chão durante sete dias e sete noites, e nenhum deles lhe disse uma palavra sequer, porque eles viram que o seu sofrimento era muito grande" (Job 2.13 ).

Todos os amigos querem diminuir o sofrimento dae. Cercam-na com palavras que, pensam eles, trao algum consolo. Mas que palavra ou poema poderá substituir o seu filho? E a chamam ao telefone para dizer-lhe suas palavras doces e cheias das intenções mais puras. Mas a pureza das intenções não garante a sua sabedoria. E aí, à dor da morte do filho, acrescenta-se uma a outra dor: ae é obrigada a ouvir os consoladores delicada e pacientemente, com sorrisos de agradecimento... Mas são tantos os consoladores e eles cansam tanto...

Gestos de consolo, lembro-me de um que me comoveu. Eu vivia em Nova York com a minha família. Aí o pai da minha esposa foi morto num acidente, no Brasil. Ao abrir a porta do apartamento, no chão estava um buquê de flores. Aquele que o trouxera se retirara em silêncio. Não tocara a campainha. Mas deixara um bilhete onde estava escrito: "Não quis perturbar a sua dor...