terça-feira, 29 de março de 2011

Texto para Reflexão

Texto para refletirmos sobre nossa postura diante de uma pessoa enlutada.
Como agir? O que dizer?

Nossa sociedade tem dificuldade em lidar com o silêncio. Quer sempre saber, questionar como aconteceu.

O Enlutado quer estar com... quer ser amparado, quer companhia... porém sem questionamentos!
Pense nisso... e boa reflexão!


 A Morte e o Silêncio - Rubens Alves

Nos breves intervalos em que a chuva parava de cair e os raios de sol se infiltravam pelas nuvens, o arco-íris aparecia fazendo os homens se lembrar da promessa que Deus fizera depois do dilúvio: ele nunca mais permitiria que as águas destruíssem a vida. Mas parece que ele se esquecera. A chuva caia sem parar alagando campos, inundando cidades, derrubando casas, matando gente e bichos.
Ele era um menino de 14 anos, feliz, que gostava de viver. Filho único, morava em Floripa. Como todos os meninos e meninas, ele deveria ir à escola naquele dia, porque a chuvao estavao forte assim. E andar na chuva é uma arte quealegria às criaas.

Chegou a hora do recreio, tempo livre para brincar. A chuva voltou a cair mais forte, com raios e troes. Havia um lugar abrigado da chuva, uma marquise, construída fazia três semanas. Era uma cobertura de cimento, planejada por engenheiros que sabiam o que estavam fazendo. Sólida. Ele se abrigou sob a marquise para ver a chuva. Mas a marquise, ignorando ferro e cimento, caiu sobre ele, esmagando-o. Agora, no seu lugar, resta uma dor que nenhuma palavra pode conter.

A morte faz calar as palavras. São inúteis. Servem para nada. Somente os tolos tentam consolar. Eles não sabem que as palavras de consolo, brotadas das mais puras intenções, são ofensas à dor da pessoa golpeada pela morte. Porque elas, as palavras de consolo, são ditas no pressuposto de que elas têm poder para diminuir o vazio que a morte deixou. Como se a pessoa que a morte levou não fosseo importante assim e algumas palavras pudessem diminuir a dor que sua morte deixou.

Mas não há palavra ou poema que possa com as únicas palavras que a morte deixa escritas: "Nunca mais". Nada existe de mais definitivo e mais doloroso que esse "nunca mais..."

Bem fizeram os amigos de Jó que o visitaram com o intuito de consolá-lo na sua desgraça. O texto bíblico descreve o que aconteceu:
"Quando eles, de longe, o viram, eles não o reconheceram; e eles levantaram suas vozes e choraram. E eles se assentaram com ele no chão durante sete dias e sete noites, e nenhum deles lhe disse uma palavra sequer, porque eles viram que o seu sofrimento era muito grande" (Job 2.13 ).

Todos os amigos querem diminuir o sofrimento dae. Cercam-na com palavras que, pensam eles, trao algum consolo. Mas que palavra ou poema poderá substituir o seu filho? E a chamam ao telefone para dizer-lhe suas palavras doces e cheias das intenções mais puras. Mas a pureza das intenções não garante a sua sabedoria. E aí, à dor da morte do filho, acrescenta-se uma a outra dor: ae é obrigada a ouvir os consoladores delicada e pacientemente, com sorrisos de agradecimento... Mas são tantos os consoladores e eles cansam tanto...

Gestos de consolo, lembro-me de um que me comoveu. Eu vivia em Nova York com a minha família. Aí o pai da minha esposa foi morto num acidente, no Brasil. Ao abrir a porta do apartamento, no chão estava um buquê de flores. Aquele que o trouxera se retirara em silêncio. Não tocara a campainha. Mas deixara um bilhete onde estava escrito: "Não quis perturbar a sua dor...


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